quarta-feira, 31 de março de 2010

Representações através das coordenadas espaço/tempo

Ola Colegas


Dentro da sociedade pós moderna (ou contemporanea) o individuo-nacional está sendo influenciado pela representações internacionais (escrita, pintura, desenho, fotografia, simbolização através da arte ou dos sistemas de telecomunicação) que transportam, atraves dos meios de telecomunicações, ideologias que interferem no seu comportamento como individuo nacional. A representação do individuo adquire uma nova identificação, um novo reconhecimento como ser social, pois este começa a participar da "aldeia global" e sente-se inserido nesta nova ideologia da comunidade ao qual ele começa a se integrar.
As identidades dos individuos sofrem mutações de suas caracteristicas com o efeito tempo/espaço comprimido pelos meios tecnologicos. Por exemplo, ao assistirmos um programa vemos uma nova tendencia para a moda outono/inverno, desenvolvida por um estilista Italiano, apresentado em um desfile em Tokio e fabricado em Taiwan com algodão indiano com mão de obra chinesa e vendido por uma exportadora americana na avenida 25 de março em São Paulo.
De acordo com o fluxo mercadologico e ideologico da nova nova moda supracitado, todos esses paises de alguma forma sofrem interferencias desta moda, ou seja, a mesma roupa a qual fui influencia a usar, e a mesma moda expalhada pela difusora televisiva.
Não precisamos nos deslocar para sermos influenciados ou adquirirmos os habitos, pegamos o controle da tv a cabo ou acessamos sites pela internet e podemos receber e enviar informaçoes desta nova influencia, mas se precisarmos deslocar para uma conferencia, São Paulo é logo ali, 1 hora e 30 minutos de distancia de Goiania pela TAM. Nossos conceitos de espaço tornam-se tempo, e nosso tempo torna-se um conceito de distancia, pois para ir a UFG Samambaia eu gasto por volta de 45 minutos.
Quem nunca usou uma calça jeans, comeu um Mc Donalds, tomou uma Coca Cola e assitiu um jogo do Brasil direto da Alemanha na Copa de 2006? Atire a primeira pedra quem nunca sofreu um processo de transculturação.

Um abraço a todos e um otimo final de semana e excelente pascoa

Ricardo Wobeto




sábado, 27 de março de 2010

Em discussão...

Caros(as) Alunos(as),

Este espaço foi criado com o intuito de provomermos discussões acerca dos tópicos que compõem o programa do nosso curso. Assim, a cada semana, esperamos ouvir a voz de todos neste espaço sobre questões diversas apontadas nos textos. Para esta semana gostaríamos de ouvir comentários sobre :
1) o seguinte trecho de Ortiz (2008, p.75), "Neste sentido, as transformações atuais (capitalismo flexível, indústrias culturais transnacionais, mundialização da cultura, avanços tecnológicos) incidem diretamente na maneira de se conceber as formas espaciais". Ao postar, façam um intertexto com o texto de Hall que lemos na última aula. Pensem nas questões de tempo e espaço.

2) Romaine (1995, p.5) afirma "o bilinguismo está a um passo da extinção linguística"(p. 5). Comente a afirmação pensando nas situações de contato entre línguas apresentadas pela autora.

3) Em que medida as definições de bilinguismo discutidas em Romaine (1995) diferem?

terça-feira, 23 de março de 2010


Bilinguismo Individual*
François Grosjean - Tradução de Heloísa Augusta Brito de Mello e Dilys Karen Rees

Françoise Grosjean é professor emérito da Universidade de Neuchâtel, Suíça, onde fundou o Laboratório de Processamento da Fala e da Linguagem – Language and Speech Processing Laboratory. Doutor pela Universidade de Paris, França, iniciou sua carreira acadêmica em 1974 nos Estados Unidos, na Universidade de Northeastern, Boston, onde lecionou e desenvolveu pesquisas na área de Psicolingüística. Suas áreas de interesse são a percepção, a compreensão e a produção da fala, bilingüismo e biculturalismo, língua de sinais e bilingüismo de surdos, avaliação da compreensão da fala em pacientes afásicos e modelos de processamento da linguagem.

* Texto publicado na Revista UFG, dezembro 2008, Ano X n.5, p.163-176.

Poucas áreas da Lingüística encerram tantos conceitos inadequados quanto a área de bilingüismo. A maioria das pessoas acredita que o bilingüismo é um fenômeno raro encontrado apenas em países tais como o Canadá, a Suíça e a Bélgica e que os bilíngües apresentam um mesmo grau de fluência na fala e na escrita em ambas as línguas, falam sem sotaque e podem interpretar ou traduzir sem nenhum treinamento prévio. No entanto, a realidade é bastante diferente – o bilingüismo está presente em praticamente todos os países do mundo, em todas as faixas etárias e em todas as classes sociais. Na verdade, estima-se que metade da população mundial é bilíngüe. Quanto aos bilíngües, a maioria adquire suas línguas em diferentes momentos da vida e raramente são igualmente fluentes em todas elas – muitos falam uma de suas línguas não tão bem quanto a outra (e quase sempre com sotaque) e muitos lêem ou escrevem em apenas uma das línguas que falam. Além disso, poucos bilíngües são capazes de interpretar ou traduzir proficientemente.

Neste artigo, muitos aspectos do indivíduo bilíngüe serão discutidos, porém, será dada ênfase especial ao bilíngüe adulto estável, ou seja, à pessoa que não mais está em processo de aquisição de uma segunda ou terceira língua. Inicialmente, descreveremos o indivíduo bilíngüe em termos de uso e conhecimento lingüístico. Em seguida, examinaremos o comportamento lingüístico do bilíngüe quando se comunica com monolíngües ou com outros bilíngües. Discutiremos, ainda, algumas questões relacionadas com a psicolingüística e a neurolingüística do bilingüismo. E, finalmente, apresentaremos um breve panorama das atitudes, do comportamento e da personalidade do indivíduo bilíngüe.

1. Descrevendo o bilíngüe
Embora alguns pesquisadores tenham definido os bilíngües como aqueles indivíduos que têm controle de duas ou mais línguas de maneira semelhante à dos nativos, a maioria concorda que esta definição não é realista. Se considerarmos como bilíngües apenas aquelas pessoas que se passam por monolíngües em cada uma de suas línguas, estaremos desconsiderando todas aquelas que usam regularmente duas línguas, mesmo que não possuam a fluência de um nativo, mas que não podem ser consideradas simplesmente como monolíngües. Este fato levou pesquisadores a proporem outras definições do bilingüismo, tais como: a habilidade em produzir enunciados significativos em duas (ou mais) línguas, o domínio de pelo menos uma das habilidades lingüísticas (leitura, escrita, fala, audição) em outra língua, o uso alternado de várias línguas, etc.
Neste artigo, consideraremos como bilíngües aquelas pessoas que usam duas (ou mais) línguas (ou dialetos2 ) diariamente. Assim, esta definição inclui pessoas que vão desde o trabalhador migrante que fala com certa dificuldade a língua do país anfitrião (e que não a lê nem a escreve) até o intérprete profissional que é totalmente fluente nas duas línguas. Neste intervalo, encontra-se o cônjuge que interage com amigos na sua primeira língua, o cientista que lê e escreve artigos em uma segunda língua (mas que raramente a fala), o membro de uma minoria lingüística que usa a língua minoritária somente em casa e a majoritária nos outros domínios de sua vida, a pessoa surda que usa a língua de sinais com os amigos, mas que usa outros tipos de sinais com uma pessoa ouvinte, etc. Apesar da grande diversidade que existe entre essas pessoas, todas compartilham uma mesma característica – todas convivem com duas ou mais línguas (bilíngües que não mais usam suas diferentes línguas, mas que retêm um certo conhecimento delas serão denominados bilíngües adormecidos).
As razões pelas quais as línguas entram em contato e, em conseqüência, impulsionam o bilingüismo são várias: migrações de diversos tipos (econômica, educacional, política, religiosa, etc.), nacionalismo e federalismo, educação e cultura, comércio, casamento entre pessoas de nacionalidades diferentes, etc. Esses fatores criam diversas necessidades lingüísticas para as pessoas que estão em contato com duas ou mais línguas, levando-as a desenvolver competências nesses línguas, na medida em que suas necessidades assim exigem. Em situações de contato é raro que todas as facetas da vida cotidiana requeiram o uso da mesma língua (caso contrário as pessoas não seriam bilíngües) ou que elas sempre precisem utilizar as duas línguas em todas as situações (a língua A e B no trabalho, em casa, com amigos, etc.). Na verdade, os bilíngües adquirem e usam suas línguas com diferentes propósitos, em diferentes situações de vida e com diferentes pessoas. Isso acontece precisamente porque as necessidades e usos das línguas são normalmente muito diferentes e os bilíngües raramente desenvolvem a mesma fluência nas duas línguas. O nível de fluência atingida numa língua (mais precisamente numa habilidade lingüística) dependerá da necessidade de uso daquela língua e será específica ao domínio (casa, trabalho, escola, etc.). É, portanto, perfeitamente normal encontrar bilíngües que somente lêem e escrevem em uma das línguas, mas que possuem fluência oral reduzida na língua que só usam com um número restrito de pessoas, ou que são capazes de discorrer sobre apenas um assunto particular em uma das línguas. Isso explica, em parte, porque os bilíngües são, em geral, considerados maus intérpretes e tradutores, pois são necessárias não apenas habilidades específicas, mas também conhecimento lexical equivalente nas duas línguas, algo que a maioria dos bilíngües não possui. Certos domínios e tópicos são cobertos pelo léxico de uma língua, outros pelo léxico da outra língua e alguns poucos pelas duas. Interpretar e traduzir quando não dominam o vocabulário apropriado e as habilidades necessárias é, portanto, algo que os bilíngües consideram difícil.
A dificuldade em se compreender que os bilíngües geralmente usam suas línguas para diferentes finalidades, com pessoas diferentes e em diferentes domínios da vida tem sido o maior obstáculo para que se obtenha uma clara idéia dos bilíngües e tem trazido conseqüências negativas tais como: os bilíngües têm sido descritos e avaliados em termos da fluência e do domínio que possuem em ambas as línguas; as habilidades lingüísticas dos bilíngües têm sido, quase sempre, avaliadas em termos dos padrões monolíngües; as pesquisas sobre bilingüismo têm sido, em grande parte, conduzidas do ponto de vista das línguas do bilíngüe, individual ou separadamente; e, finalmente, muitos bilíngües avaliam suas competências lingüísticas como sendo inadequadas. Alguns ainda criticam suas capacidades lingüísticas, outros se esforçam para atingir os padrões monolíngües, outros escondem seus conhecimentos da língua mais “fraca” e a maioria, simplesmente, não se percebe como bilíngüe, mesmo que usem duas (ou mais) línguas diariamente.

Os pesquisadores estão começando, agora, a ver o bilíngüe não mais como a soma de dois (ou mais) monolíngües, completos ou incompletos, mas como um falante-ouvinte específico, completamente competente e que desenvolveu uma competência comunicativa equivalente à do monolíngüe, embora de natureza diferente. Essa competência pressupõe o uso de uma língua, de outra, ou das duas juntas (na forma de fala mista, veja abaixo), dependendo da situação, do tópico, do interlocutor, etc. Essa nova postura, por sua vez, tem levado a uma redefinição dos procedimentos utilizados para avaliar as competências do bilíngüe. Os bilíngües estão sendo, agora, estudados em termos de seu repertório lingüístico total, de seus domínios de uso e das funções que as línguas consideradas exercem.

Finalmente, deve-se observar que assim como mudam o ambiente e as necessidades de habilidades lingüísticas específicas, também muda a competência lingüística do bilíngüe em suas várias habilidades. Novas situações, novos interlocutores e novas funções envolverão novas necessidades lingüísticas e irão, dessa forma, mudar a configuração lingüística da pessoa envolvida. Casos extremos de reestruturação são o esquecimento da língua e o retorno ao monolingüismo funcional, seja na primeira, segunda ou terceira língua do indivíduo.

2. O Comportamento lingüístico do bilíngüe
Um dos aspectos mais interessantes do bilingüismo é o fato de duas ou mais línguas estarem em contato na mesma pessoa. Este fenômeno, que tem sido amplamente pesquisado, pode ser mais bem compreendido se examinado segundo os diversos modos de uso das línguas do bilíngüe. Em outras palavras, em seu cotidiano, os bilíngües encontram-se em um continuum situacional que os induz a diferentes modos de expressão. Em um dos extremos desse continuum, temos o modo monolíngüe no qual os bilíngües falam ou escrevem para outros monolíngües em uma ou outra língua que eles conheçam. No outro extremo desse continuum, está o modo bilíngüe, no qual os bilíngües interagem com outros bilíngües, compartilhando cada uma de suas línguas separadamente ou misturando-as (mudança de código, empréstimo, etc.). Para um melhor entendimento, este artigo se refere apenas aos dois extremos desse continuum, isto é, aos modos monolíngüe e bilíngüe, mas deve-se lembrar que são os pontos extremos do continuum e que há pontos intermediários. Este é o caso, por exemplo, de bilíngües que nunca misturam suas línguas quando falam com outros bilíngües ou com pessoas que têm um conhecimento limitado de outra língua. Deve-se notar, também, que os bilíngües diferem entre si na medida em que percorrem esse continuum; alguns raramente encontram-se no extremo bilíngüe enquanto que outros raramente abandonam esse extremo (por exemplo, os bilíngües que moram em comunidades bilíngües onde a norma lingüística é a mistura de línguas).
2.1.O modo monolíngüe

Neste modo, os bilíngües adotam a língua de seu(s) interlocutor(es) monolíngüe(s) e desativam a(s) outra(s) língua(s) quase que completamente. Os bilíngües que assim o fazem e que falam a outra língua fluentemente e sem sotaque são, em geral, identificados como monolíngües. Embora tais casos sejam relativamente raros, são esses que justamente levam as pessoas a pensarem que os bilíngües são (ou deveriam ser) dois monolíngües em uma só pessoa. Na verdade, a desativação de outra língua raramente é total como podemos perceber nos exemplos de interferências que os bilíngües produzem (também conhecidas como desvios entre línguas). Uma interferência é um desvio próprio do falante da língua que está sendo usada no momento da conversa, devido à influência da outra língua “desativada”. As interferências podem ocorrer em todos os níveis da língua (fonológico, lexical, sintático, semântico, pragmático) e em todas as modalidades (falada, escrita ou de sinais). Elas são de dois tipos: interferências estáticas que refletem traços permanentes de uma língua em outra (tais como um sotaque permanente, os acréscimos significativos de determinadas palavras, estruturas sintáticas específicas, etc.) e as interferências dinâmicas, que são aquelas passageiras, momentâneas de uma língua sobre a outra (como no caso de um erro acidental na sílaba tônica da outra língua, o uso momentâneo de uma estrutura sintática tirada da língua não usada, etc.). Por exemplo, as interferências produzidas por um francês falando inglês são: quanto ao nível fonético, a pronúncia de Sank evven for dees ao invés de Thank heaven for this; no nível lexical, usando corns (do Francês comes) ao invés de horns em Look at the corns on that animal; no nível sintático, falando I saw this on the page five (ao invés de on page five), e na escrita, em erros de ortografia como em adress e appartment (baseado nas palavras francesas adresse e appartement).
Além disso, se o bilíngüe possui uma competência limitada em uma de suas línguas, desvios decorrentes da sua interlíngua (também conhecida como desvios em uma das línguas) ocorrerão. Estes desvios incluem generalizações excessivas (por exemplo, usar verbos irregulares como regulares), simplificações (omitir marcadores de tempo e plural, trocar as funções das palavras, simplificar a sintaxe, etc.), assim como correções em demasia e o não-uso de certas palavras e expressões. Desvios em uma das línguas ou entre línguas são claramente perceptíveis quando os bilíngües estão no modo monolíngüe, mas eles também ocorrem no modo bilíngüe (veja abaixo).
Finalmente, deve-se ressaltar que ambos os tipos de desvios, apesar de às vezes serem bastante aparentes (como nos sotaques estrangeiros), geralmente não interferem na comunicação. Isto é devido ao fato de que os bilíngües desenvolvem suas línguas de acordo com o nível de fluência exigida pelo meio em que vivem. Deste modo, os desvios presentes na fala dos bilíngües são da mesma natureza daqueles produzidos por escorregões na linguagem ou por momentos de indecisão que todos nós produzimos. Eles estão presentes, mas em geral não afetam a comunicação.
2.2. O modo bilíngüe
Neste modo, os bilíngües interagem entre si. Primeiro adotam uma língua para usarem juntos, que é chamada de “língua base” (também conhecida como língua “anfitriã” ou “matriz”). Este processo é chamado “escolha de línguas” e é dirigido por diversos fatores: os interlocutores envolvidos (as línguas usadas na interação, a proficiência nas línguas, as preferências, status socioeconômico, idade, sexo, profissão, educação, relacionamentos pessoais, atitudes em relação à língua, etc.); a situação da interação (o lugar, a presença de indivíduos monolíngües e os graus de formalidade e de intimidade); o conteúdo do discurso (o tópico, o tipo de vocabulário necessário, etc.) e, finalmente, a função da interação (informar, criar uma distância social entre os falantes, elevar o status de um dos interlocutores, excluir alguém da conversação, pedir algo, etc.). A escolha da língua é um comportamento aprendido natural e tacitamente (um indivíduo bilíngüe raramente pergunta-se: “Que língua eu deveria usar com esta pessoa?”), mas é preciso lembrar que este é um fenômeno muito complexo que só se torna visível no momento em que há uma quebra na interação. Normalmente, os bilíngües, durante suas interações diárias com outros bilíngües, agem sem perceber os vários fatores psicológicos e sociolingüísticos que os induzem à escolha de uma língua ao invés de outra. A língua base pode mudar várias vezes durante uma simples conversa se a situação, o tópico, o interlocutor, etc. assim exigirem.

Uma vez escolhida a língua-base, os bilíngües podem trazer a outra língua (língua ‘convidada’ ou ‘encaixada’) para a conversação de várias maneiras. Uma delas é a mudança de código, ou seja, uma mudança completa de língua por meio de uma palavra, uma frase ou uma sentença (por exemplo, Va checher Marc and bribe him avec um chocolat chaud with cream on top – Vá buscar o Marc e suborneo com um chocolate com creme). A mudança de código tem sido estigmatizada há muito tempo, recebendo um grande número de nomes pejorativos como franglais (mistura de inglês e francês) ou tex-mex (mistura de inglês e do espanhol falado no sudoeste dos Estados Unidos). A conseqüência imediata disso é que alguns bilíngües nunca mudam de código, enquanto que outros restringem a mudança a situações em que eles não serão estigmatizados por fazê-la.

No final dos anos 80 e início dos anos 90, a mudança de código passou a receber uma atenção especial dos pesquisadores. Por exemplo, os sociolingüistas concentraram suas pesquisas em quando e por quê a mudança ocorre no contexto social. As principais razões levantadas são: suprir uma necessidade da língua; dar continuidade à última língua utilizada; introduzir uma citação ou discurso de alguém; especificar o interlocutor; excluir alguém da conversa; qualificar a mensagem; especificar o envolvimento do falante; marcar a identidade do grupo; transmitir emoções; mudar o papel do falante, etc. Por outro lado, os lingüistas têm buscado estudar os tipos de mudança de código que ocorrem (palavras simples, frases, orações, sentenças, etc.) assim como identificar as restrições lingüísticas que governam a sua ocorrência. Embora ainda haja uma considerável controvérsia sobre este último foco (seriam as restrições universais ou específicas à língua? Quão amplas são as restrições?), já se sabe que mudança de código não é simplesmente um comportamento fortuito, decorrente de alguma forma de “semilingüismo”, mas, ao contrário, um processo bem governado, usado como uma estratégia comunicativa para transmitir informações tanto lingüísticas quanto sociais.

Uma outra forma de os bilíngües trazerem a língua menos ativada para a conversação é tomar emprestado uma palavra ou expressão da outra língua e adaptá-la morfologicamente (e, muitas vezes, fonologicamente) à língua base. Assim, diferentemente da mudança de código que é a justaposição de duas línguas, o empréstimo é a integração de uma língua à outra. Frequentemente, a forma e o conteúdo da palavra são emprestados (produzindo o que é chamado de loanword ou simplesmente empréstimo), como se pode observar nos seguintes exemplos produzidos por bilíngües em inglês-francês: “Ca métonneirait quón ait code-switché autant que ça” (Eu não acredito que nós mudamos de código tanto assim) e “Maman, tu peux me tier / taje / me chassures?” (Mamãe, você pode amarrar meus sapatos?). Nestes exemplos, as palavras inglesas codeswitching e tie foram trazidas e integradas na frase em francês. Um segundo tipo de empréstimo, chamado loanshift, consiste em utilizar uma palavra da língua base e estender o seu significado ao de uma palavra da outra língua, ou em rearranjar palavras na língua base segundo um padrão proveniente da outra língua, e, criando assim, um novo sentido. Um exemplo do primeiro tipo de loanshift seria o uso de humoroso por falantes portugueses imigrantes nos Estados Unidos com o sentido de humorous (humorístico). Um exemplo do segundo tipo seria o uso de expressões idiomáticas traduzidas literalmente da outra língua, como I put myself to think about it, dito por um bilíngüe em espanhol-inglês, baseado em Me puse a pensarlo. É importante distinguir loans idiossincráticos (também chamados de speech borrowings ou nonce borrowings) de palavras que têm se tornado parte do vocabulário de uma comunidade lingüística e que também são usadas por monolíngües (são os chamados empréstimos lingüísticos ou established loans). Assim, no texto seguinte cada terceira ou quarta palavra é um established loan do francês que se tornou parte da língua inglesa: The poet lived in the duke’s manor. That day, he painted, played music and wrote poems with his companions. As pesquisas do final do último século estão examinando, entre outras coisas, as diferenças e semelhanças que existem entre mudanças de código e empréstimos (dentro desses últimos, empréstimos idiossincráticos e established loans), bem como o impacto dos dois na língua em si, tais como a reestruturação da primeira e da segunda línguas.

3. A psicolingüística do bilingüismo

A psicolingüística do bilingüismo tem como objeto de estudo os processos envolvidos na produção, percepção, compreensão e memorização das línguas pelo indivíduo bilíngüe (falada, escrita ou de sinais) quando usadas nos modos de fala monolíngüe ou bilíngüe. Até o início dos anos 90, os estudos focalizavam primordialmente a independência das línguas do bilíngüe (como o bilíngüe mantém suas duas línguas separadas? Teria o bilíngüe um ou dois léxicos?) em detrimento de questões como o processamento da linguagem, seja no modo monolíngüe ou bilíngüe. Muitas pesquisas foram conduzidas focalizando, por exemplo, a distinção coordenado-composto-subordinado. De acordo com esta distinção, há três tipos de bilíngües: os bilíngües coordenados são aqueles que têm dois conjuntos de unidades significativas e dois modos de expressão para cada língua (isto significa que as palavras das duas línguas são entidades totalmente separadas); os bilíngües compostos são aqueles que têm um conjunto de unidades significativas e dois modos de expressão (palavras “equivalentes” nas diferentes línguas têm o mesmo significado) e os bilíngües subordinados são aqueles que têm as unidades significativas da primeira língua e dois modos de expressão – o da primeira língua e o da segunda – este último aprendido por meio da primeira (neste modo, o bilíngüe interpreta as palavras da língua “mais fraca” através das palavras da língua “mais forte”). Apesar do apelo inerente desta distinção, não há evidência de resultados conclusivos a fim de que os bilíngües possam ser classificados como coordenados, compostos ou subordinados.
Uma outra área de considerável investigação tem sido a questão do léxico: teriam os bilíngües um ou dois léxicos internos? Aqueles que acreditam que os bilíngües possuem um léxico (visão da armazenagem interdependente) afirmam que a informação lingüística é armazenada em um único sistema semântico. As palavras das duas línguas são organizadas em um léxico maior, mas cada palavra é etiquetada de acordo com a língua a qual ela pertence. Outros pesquisadores acreditam que os bilíngües têm dois léxicos (visão da armazenagem independente) e a informação adquirida em uma língua estaria disponível na outra apenas por meio do processo de tradução. Novamente, apesar do grande número de estudos, resultados conclusivos não foram encontrados. Na verdade, o que tem sido proposto é que os bilíngües têm três locais de armazenagem, um conceitual que corresponde ao conhecimento de mundo do bilíngüe e dois lingüísticos, um para cada língua.
Uma terceira questão que também tem suscitado interesse é a habilidade dos bilíngües de manter as duas línguas separadas no modo monolíngüe. Alguns pesquisadores postulam a existência de um dispositivo de mudança de língua que serviria para bloquear a língua que não está sendo usada. Estudos experimentais foram conduzidos na expectativa de se encontrar evidências para tal proposta. Entretanto, os resultados obtidos são questionáveis e inconclusivos. Acredita-se, atualmente, que nenhum dispositivo exista, seja ele psicolingüístico ou neurolingüístico. Uma outra hipótese proposta é a de que os bilíngües provavelmente utilizam vários procedimentos de ativação e desativação para manter as línguas separadas no modo monolíngüe e fazê-las interagir no modo bilíngüe.
Só recentemente, ao final do século XX, aceita-se o fato de que o indivíduo bilíngüe não são dois monolíngües em uma só pessoa, mas um falanteouvinte único que utiliza uma ou outra língua, ou ambas, dependendo do interlocutor, da situação, do tópico da conversação, etc. (veja acima). As pesquisas atuais no campo da psicolingüística estão tentando compreender o processamento da linguagem no indivíduo bilíngüe segundo os seus diferentes modos de expressão. Alguns pesquisadores estão estudando como os bilíngües no modo de expressão monolíngüe diferem dos indivíduos monolíngües em termos dos processos de percepção e produção; também investigam se há interação real entre as duas línguas durante o processamento da linguagem no modo de expressão bilíngüe. Esta última questão tem produzido interessantes resultados como, por exemplo, no reconhecimento de palavras “convidadas” (empréstimo e mudança de código), ou seja, se elas são reconhecidamente identificadas como pertencentes a um ou outro léxico, a presença ou ausência de uma base lingüística homófona, a pronúncia da palavra convidada em uma língua ou na outra e a língua que precede a palavra (a língua base do contexto). Vale ressaltar que todos esses aspectos exercem um papel importante no processo de assimilação. Modelos atuais de processamento da linguagem no bilíngüe estão sendo propostos, assim como dados que os comprovem estão sendo coletados. Assim, um modelo de ativação interativa surge para comprovar os resultados de reconhecimento da palavra já mencionados. Com relação ao domínio da produção, alguns pesquisadores estão tentando explicar os processos subjacentes envolvidos na produção de mudanças de códigos e empréstimos. Além destes, muitos outros modelos estão sendo propostos.

4. A neurolingüística do bilingüismo

Há muito tempo os neurolingüistas têm se interessado em descrever como a linguagem é organizada na mente bilíngüe e como essa organização difere daquela de um monolíngüe. Uma das abordagens tem sido observar e testar afásicos bilíngües com o fim de entender melhor quais são as línguas afetadas por danos mentais e quais os fatores que mais contribuem para os diferentes padrões de reaquisição das línguas. Outro método tem sido estudar bilíngües normais para verificar se o processamento lingüístico ocorre principalmente no hemisfério esquerdo do cérebro (como se dá em indivíduos monolíngües) ou nos dois hemisférios.

Com relação à afasia, pesquisadores observaram em bilíngües vários padrões de recuperação de duas ou mais línguas após algum dano – classificados em paralelos, diferenciais, sucessivos, antagônicos, seletivos e mistos – e tentaram estabelecer os fatores que parecem desempenhar um papel na recuperação não-paralela, isto é, quando as línguas não são juntamente recuperadas na mesma velocidade. Atualmente, nenhum fator surgiu para explicar os diferentes tipos de padrões de recuperação, e ainda não se sabe se a recuperação difere notoriamente após terapia em uma língua, na outra ou em ambas. Entretanto, supõe-se que, se uma língua não é recuperada, isso não significa que ela foi perdida, mas simplesmente que ela está inibida, temporária ou permanentemente.

Na questão da lateralização da linguagem, é um fato bem conhecido que o hemisfério esquerdo do cérebro é o dominante para linguagem em pessoas monolíngües. A questão é se as pessoas bilíngües têm, também, forte dominância do hemisfério esquerdo para a linguagem. Até poucos anos atrás, com base em estudos de afásicos bilíngües e em resultados experimentais, alguns pesquisadores consideravam que pessoas bilíngües usam mais o hemisfério direito no processamento da linguagem do que as monolíngües. Entretanto, após estudos mais avançados, com maior controle, surgiram claras evidências de que monolíngües e bilíngües não diferem em nada na questão do envolvimento hemisférico durante o processamento da linguagem. Quanto à organização da linguagem na mente bilíngüe, a maioria dos pesquisadores concorda que as línguas não estão arquivadas em locais completamente diferentes. Além disso, pessoas bilíngües teriam dois dispositivos de conexão neural, um para cada língua (podendo ser ativados ou inibidos independentemente), ao mesmo tempo em que possuiriam um dispositivo maior do qual elas poderiam retirar elementos de qualquer uma das línguas, a qualquer tempo. Dito isso, a mente bilíngüe continua sendo terreno incógnito e somente pesquisas clínicas e experimentais mais avançadas poderão dizer quão semelhante ela é à mente monolíngüe e em que maneiras elas podem divergir.

5. A pessoa bilíngüe

Esta última seção discutirá as atitudes e sentimentos que bilíngües e monolíngües têm em relação ao bilingüismo, as várias atividades mentais, a interação entre língua e emoção e a personalidade dos bilíngües.

5.1. Atitudes e sentimentos em relação ao bilingüismo

Várias pesquisas demonstram que ou os bilíngües são indiferentes ao bilingüismo (isto é, consideram-no apenas um fato da vida) ou vêem mais vantagens do que desvantagens em conviver com duas ou mais línguas. A maioria aprecia o fato de ser capaz de comunicar-se com pessoas de origens lingüísticas e culturais diferentes; outros acham que o bilingüismo oferece uma perspectiva de vida diferente que propicia uma maior visão de mundo, permite a leitura e a escrita em diferentes línguas, facilita a aprendizagem de outras línguas, dá mais oportunidades de trabalho, etc. As inconveniências aparecem em menor número e envolvem aspectos tais como: mudança de código involuntária, necessidade de se ajustar a culturas diferentes, sentimento de perda de uma das línguas (normalmente a língua minoritária) ou ter que servir de tradutor em várias ocasiões.

É interessante comparar estas reações aos sentimentos e atitudes que os monolíngües têm em relação ao bilingüismo. Estes são bastante diversos, variando desde atitudes muito positivas (como o fato de poderem os bilíngües falar e escrever duas ou mais línguas fluentemente) até atitudes muito negativas (como o fato de alguns bilíngües não dominarem perfeitamente suas línguas a ponto de não serem capazes de traduzir automaticamente de uma língua para outra, etc.). Deve-se ressaltar que a maioria dos monolíngües julga os bilíngües com base nos aspectos socioeconômicos e culturais e não nos lingüísticos.

5.2. Atividades mentais, emoção e estresse

Pouco se sabe sobre as línguas usadas pelos bilíngües em suas atividades mentais, ou como eles reagem quando estão sob pressão ou numa situação de emoção. Parece que muitas das operações mentais são, de fato, específicas a uma das línguas. Assim, os bilíngües geralmente contam e rezam na língua em que aprenderam essas funções. Pensar e sonhar também parecem ser comportamentos específicos à língua e dependem das pessoas, da situação e do tópico nos quais estão envolvidos (veja acima). Quando cansados, nervosos, ansiosos, os bilíngües geralmente farão uso da língua materna ou de qualquer outra língua na qual normalmente expressam suas emoções. O estresse talvez deva causar maior interferência, como problemas em encontrar as palavras apropriadas e interrupções involuntárias. Além disso, há relatos de que os bilíngües gostariam que os monolíngües mais próximos a eles (cônjuge, colegas e amigos) também fossem bilíngües.

5.3. Personalidade e bilingüismo

Alguns bilíngües dizem que quando mudam a língua, também mudam suas atitudes e seus comportamentos. Este fato tem sido freqüentemente relatado na literatura: alguns bilíngües apresentam ligeiras diferenças de opiniões, dependendo da língua que estão falando; outros são mais autoritários em uma das suas línguas; outros são mais reservados ou gentis, etc. Daí é possível concluir que existe um pouco de verdade no provérbio checo, “Aprenda uma nova língua e ganhe uma nova alma”. Alguns concordariam com este provérbio e iriam ainda mais longe, afirmando que os bilíngües têm dupla personalidade. Na realidade, não há evidência real de que os bilíngües sofrem mais de distúrbios mentais do que os monolíngües; o que é visto como uma mudança de personalidade é simplesmente uma transferência de atitudes e comportamentos, correspondendo a uma transferência de situação ou contexto, independentemente da língua.

Conforme vimos anteriormente, os bilíngües, em geral, escolhem uma das línguas de acordo com a situação, com o interlocutor, com o tópico e com a intenção da conversa. Esses fatores desencadeiam diferentes atitudes, impressões e comportamentos (como fazem os monolíngües que modificam o conteúdo e a forma dos seus discursos, dependendo do contexto) e, assim, o que é visto como uma alteração de personalidade, devido a uma mudança de língua, é, de fato, uma mudança de situação e de interlocutor. Em poucas palavras, é o meio ambiente como um todo que causa no bilíngüe mudanças de língua juntamente com atitudes, sentimentos e comportamentos – e não a língua como tal. A principal diferença entre monolíngües e bilíngües, neste caso, é que os bilíngües geralmente mudam de línguas (e, portanto, parecem ser pessoas diferentes) enquanto que os monolíngües não o fazem. Além disso, os bilíngües geralmente mudam de uma cultura para outra em suas interações (muitos são biculturais), ao passo que os monolíngües interagem com uma única cultura.

6. A pesquisa no século XXI

Apesar de já existir um número significativo de pesquisas sobre o indivíduo bilíngüe, muitas outras precisam ser realizadas acerca dessa questão. O surgimento de uma visão holística do bilingüismo tem levado pesquisadores a deixarem de visualizar o bilingüismo segundo o padrão monolíngüe, para fixarem-se na questão lingüística, propriamente dita, do bilingüismo.

Entretanto, muitas outras questões também requerem estudos: a estrutura e a organização das diferentes línguas dos bilíngües; os diversos processos operacionais envolvidos na percepção, produção e memorização da língua quando o bilíngüe está em um dos seus modos de fala (monolíngüe ou bilíngüe); as diferenças lingüísticas e psicolingüísticas (e semelhanças) entre mudanças de códigos, empréstimos e interferências; a organização do cérebro do bilíngüe; e finalmente, a psicologia da pessoa bilíngüe e bicultural.

Referências

Baetens-Beardsmore, H. Bilingualism: Basic Principles. Clevedon: MultilingualMatters, 1982.Clyne, M. Perspectives on Language Contact. Melbourne: HawthornePress, 1972.
Grosjean, F. Life with Two Languages: An Introduction to Bilingualism. Cambridge:Harvard University Press, 1982.
Hakuta, K. Mirror of Language: The Debate of Bilingualism. New York: Basic Books,1986.
Haugen, E. The Norwegian Language in America: A Study in Bilingual Behavior. 2nd ed.Bloomington: University of Indiana Press, 1969.
Heller, M. (Ed.). Code-switching. Berlin: Mouton de Gruyter, 1988.Paradis, M. “Bilingual and polyglot aphasia”. In: Boller, F. & Grafman, J. (eds.).Handbook of Neuropsychology, v. 2. Amsterdam: Elsevier, 1989.
Poplack, S. “Sometimes I’ll start a sentence in Spanish y termino en español: Towarda typology of code-switching”. In: Linguistics, n. 18, 1980, pp. 581-618.
Romaine, S. Bilingualism. London: Blackwell, 1989.Vaid, J. (Ed.). Language Processing in Bilinguals. Hillsdale: Eribaum, 1986.Weinreich, U. Languages in Contact. The Hague: Mouton, 1968.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Uma Definição de Pós-modernismo



WHAT EXACTLY IS POSTMODERNISM?

Andy Crouch

Postmodernism seems to mean anything, everything, and nothing. It's today's academic Rorschach blot on which nervous modernists and others project all their fantasies, both benign and terrifying. Whatever they're most afraid of, that's what postmodernism is. On the other hand, whatever they most secretly desire, postmodernism promises. So postmodernism is not one thing. Postmodernism originally referred to specific movements in art and architecture, which reacted to a specific movement called modernism, which happened quite a while ago. Postmodernism itself is no longer as central an issue in art and architecture, and the word has been applied in a number of new ways.

For some, postmodernism refers to a renewed attention to "the other," "the marginalized." Many streams of postmodern thought are animated by the desire to do justice to the claims of those whom the dominant culture has excluded politically, economically, and (probably not least of all from the postmodern perspective) rhetorically. That is, they've simply been omitted from the discourse within Western intellectual life. So women, non-northern Europeans, gays, lesbians, and the poor all loom large in the postmodernist consciousness as hitherto unrecognized groups who deserve the same kind of historical and philosophical attention as their polar opposites, which would be wealthy, white, heterosexual men.

Second, this attention to the marginalized has led many postmodernists into a profound skepticism toward modernity's assumptions about knowledge, truth, and reason. These postmoderns question the extent to which modernity's attempts to make truth claims is valid. They've discovered that at the base of almost every truth claim is a story, a story that privileges certain groups and marginalizes others. Jean Lyotard, the French champion of many postmodern themes, said that postmodernism requires a suspicion of the overarching stories (often called "metanarratives") that support our claims of truth. Any claim to know truth or any attempt to commend truth to others is likely to be just a power play, they argue, an attempt to impose one's own metanarrative in the guise of an absolute truth.
In this way, postmodernism is relativist. But it's not relativist across the board, because it actually has a certain perspective, the perspective of the truth claims of the marginalized, who are given quite a lot of validity in the postmodern epistemological scheme.

Third, postmodernism is also used to refer loosely to advanced consumer capitalism, in which the prevalence of choice has rendered everything level. Western consumers now find themselves in a sea of options and choices. Everything is relativized in this setting-not so much by the claims of the marginalized or even by a rigorous epistemological process but by your ability to choose anything. Everything is open to you as a consumer.

The first sense (concern with the marginalized) and the third sense (consumer capitalism) of postmodern, then, have little to do with each other. Yet both find common ground in radical skepticism about ultimate truth, because that not only emerges from many postmodern thinkers' reading of history, but also makes it easier to be a good consumer.

Acesso em: 22/03/2010.

sábado, 20 de março de 2010

Um texto de Renato Ortiz sobre Estudos Culturais


ESTUDOS CULTURAIS

Renato Ortiz


A primeira vez que tomei consciência de que seria um praticante dos Estudos Culturais foi em Berlim, numa conferência organizada por Hermann Herlinghaus, em 1995. No ano seguinte, num seminário realizado em Stirling (Escócia), do qual Stuart Hall era um dos participantes, essa sensação se reforçou, pois, ao lado de meus amigos Nestor Garcia Canclini e Jesus Martin Barbero, lá me encontrava como representante de algo que nunca me tinha ocorrido. O questionário proposto pela Universidade de Stanford cita-me como um dos mais "sobresalientes" latino-americanistas dedicados aos Estudos Culturais, o que me dá grande satisfação. Entretanto, apesar dessa evidência, a imagem que tenho entre meus colegas brasileiros não se ajusta a ela. Para eles sou simplesmente sociólogo ou antropólogo, embora meus escritos, lidos e apreciados em áreas distintas, como crítica literária, arquitetura, geografia, comunicação, se encaixem mal nas fronteiras disciplinares existentes. Pessoalmente não tenho nenhuma angústia identitária, mesmo em tempos de globalização, quando muitos estão assombrados pelo afã insensato de decifrar o seu "eu" maior. Sinceramente creio que não deveríamos ter nenhuma carteira de identidade, ela diz pouco sobre nossa individualidade, mas uma "carteira de diferenças", rica, complexa, indefinida, reveladora da diversidade de nossos itinerários ao longo da vida, fechando-se somente com a nossa própria morte. Mas, se as representações sobre meu trabalho são distintas "fora" e "dentro" do Brasil, é provável que os lugares nos quais elas são lapidadas digam alguma coisa sobre a atividade intelectual que desenvolvemos e pressupomos como dadas, objetivamente imutáveis. Sou incapaz de responder por completo às perguntas elaboradas pela Universidade de Stanford. Muitas das questões abordadas são para mim relativamente distantes, talvez por ser brasileiro, latino-americano, o que de certa maneira me afasta da lógica do campo universitário norte-americano. Considerarei portanto os pontos que me parecem os mais relevantes, e talvez, com o olhar um tanto estrangeiro, venha a contribuir com o debate em andamento.


Os Estudos Culturais não existem no Brasil como área disciplinar. Claro, o interesse pelo que é produzido, seja na Inglaterra, via Escola de Birmingham, seja nos Estados Unidos, como estudos literários, pós-modernidade, globalização, está presente entre nós. Mas os termos da discussão são outros. Não sei se eles constituirão no futuro uma especialização acadêmica nem saberia dizer se isso seria realmente desejável. A verdade é que a institucionalização do conhecimento na esfera das humanidades se encontra mais ou menos definida, constituída por disciplinas e algumas atividades específicas, tais como comunicação e artes. Mesmo nos institutos e departamentos de Letras, as tradicionais divisões de ensino e pesquisa parecem vigorar sem maiores constrangimentos. Isso estabelece de imediato um "dentro" e um "fora", pois as perguntas sobre a possível relação entre "estudos culturais" e "estudos literários", o destino dos "estudos culturais", sua politização ou não, nada têm de universal. Eles seguem o ritmo das mudanças ocorridas nas universidades norte-americanas, mas dificilmente exprimem a realidade brasileira e, eu acrescentaria, latino-americana. Na introdução de meu livro O próximo e o distante: Japão e modernidade-mundo (Brasiliense, 2000), digo que a noção de "estudos japoneses", conhecida como japonologia, somente tem sentido quando apreciada do exterior. Os japonólogos são pesquisadores, preferencialmente oriundos da Europa e dos Estados Unidos, cuja intenção é compreender a realidade desse país determinado. Passa-se o mesmo com os brasilianistas e latino-americanistas. São pessoas que se encontram "fora" do Brasil e da América Latina, trabalhando geralmente em instituições norte-americanas ou européias. Mas nenhum brasileiro ou latino-americano se identificaria como um brasilianista ou um latino-americanista. Isso somente ocorre quando eles migram para uma instituição estrangeira, inserindo-se em outro mercado acadêmico. Aí, nesse momento, sua identidade profissional irá se alterar. Por isso não há japonólogos no Japão e latino-americanistas na América Latina, mas sociólogos, economistas, historiadores etc. Quando vista internamente, a realidade das áreas geográficas tem pouca consistência (inclusive teórica), vivendo mais dos influxos externos. Embora a situação não seja exatamente a mesma (os Estudos Culturais não coincidem com uma área geográfica qualquer), algo semelhante ocorre, pois o conhecimento vem marcado pela história dos lugares nos quais os Estudos Culturais são produzidos. Teriam eles uma unidade disciplinar? Configurariam uma área específica do conhecimento? A resposta pode eventualmente ser positiva quando os consideramos no contexto das universidades norte-americanas, mas negativa, ou no mínimo ambígua, quando nos voltamos para a América Latina. No que toca ao Brasil, parece-me que a penetração dos Estudos Culturais se faz pelas bordas, ou seja, para utilizar uma expressão de Bourdieu, na periferia do campo hierarquizado das ciências sociais, particularmente nas escolas de comunicação (o que certamente demonstra o conservantismo de disciplinas como sociologia, antropologia, literatura). Entretanto, mesmo assim, nenhuma delas se propõe a modificar o seu estatuto institucional. Os textos são lidos e os autores cultivados, sem que o conceito de "comunicação", como área específica do conhecimento ou, se quiserem, de agregação de interesses, encontre-se ameaçado.


Os Estudos Culturais caracterizam-se por sua dimensão multidisciplinar, a quebra das fronteiras tradicionalmente estabelecidas nos departamentos e nas universidades. Esse é para mim um aspecto altamente positivo no processo de renovação das ciências sociais. Não há dúvida de que o movimento de institucionalização do conhecimento durante o século XX caminhou muitas vezes para uma espécie de fordismo intelectual, no qual as especialidades, as subdivisões disciplinares e temáticas (sociologia rural, antropologia da família, partidos políticos etc.), alimentadas sobretudo nos momentos de celebração ritual, os grandes congressos acadêmicos, implicaram a preponderância de um saber fragmentado em relação a uma visão mais "globalizadora", "totalizadora", dos fenômenos sociais (lembro que para Marcel Mauss a categoria "totalidade" era fundamental na construção do objeto sociológico). Não se pode dizer que o processo de especialização tenha sido inteiramente negativo; de alguma maneira ele possibilitou a análise mais detalhada de certos "eventos", mas permanece a impressão de que a fragmentação existente pouco favorece o aprimoramento do conhecimento, vinculando-se mais aos interesses dos grupos profissionais que disputam verbas de pesquisa e posições de autoridade no campo intelectual. Entretanto, não se deve considerar a importância da multidisciplinaridade como algo idêntico ao "fim das fronteiras". Ou cairemos na obviedade do senso comum que tem insistentemente alardeado, já no ocaso do século XX, o "fim" das ideologias, do espaço, do trabalho, da história. Seria, nesse caso, substituir uma insuficiência real por um falso problema. As fronteiras são necessárias para a existência de um saber autônomo, independentemente das injunções externas (religião, política, provincianismo local, senso comum). A multidisciplinaridade não é pois um valor em si, mas um valor relacional (isto é, estabelece-se em relação às "verdades" disciplinares), e é preciso portanto vinculá-la a uma questão anterior: em que medida ela favorece ou não uma realização mais adequada do próprio pensamento. Se os Estudos Culturais propõem uma solução multidisciplinar, não é menos certo que outras alternativas podem também ser exploradas, por exemplo a transdisciplinaridade. Nesse caso, os horizontes disciplinares surgem não como um entrave a ser abolido, mas como ponto de partida para uma "viagem" entre saberes compartimentados.


O tema das fronteiras pode ser ainda explorado por outro viés. A comparação com os Estados Unidos é sugestiva. Desde a década de 1920, com a Escola de Chicago, a sociologia conhece nos Estados Unidos um intenso movimento de institucionalização. Introduction to the science of sociology, de Park e Burguess, considerado a pequena bíblia dos sociólogos daquela cidade, foi publicado em 1921. A expansão do ensino universitário, com a criação de departamentos e institutos de pesquisa, irá multiplicar os nichos institucionais incentivando o florescimento das diferentes áreas acadêmicas. Já nos anos de 1940 diversas escolas de pensamento, como funcionalismo e culturalismo, apresentam-se como referências teóricas importantes no campo intelectual norte-americano. No Brasil, para utilizar um termo caro à intelectualidade latino-americana, a institucionalização das ciências sociais é "tardia". A "escola paulista" de sociologia, personificada na figura de Florestan Fernandes, data dos anos de 1950. Nesse momento, outras disciplinas, como a antropologia, certamente existiam, mas apenas de forma incipiente, desenvolvendo-se em pontos distantes e desconectados do país e praticadas por um número bastante reduzido de pessoas (a ciência política não existia ainda como especialização). Não se pode esquecer que o desenvolvimento de uma rede universitária de ensino, até a reforma de 1968, era também limitado. Na verdade, a institucionalização das ciências sociais se consolida nos anos de 1970 e 1980 com a emergência de um sistema nacional de pós-graduação (mestrado e doutorado) apoiado pelas agências financiadoras federais (Capes, CNPq) e estaduais (Fapesp), panorama que torna o Brasil hoje um país relativamente "privilegiado" comparado a seus vizinhos, pois em nenhum deles houve um desenvolvimento tão intenso das redes universitárias de pesquisa. Contrariamente às ditaduras chilena, argentina, uruguaia, os militares brasileiros foram "modernizadores", isto é, impulsionaram o crescimento econômico nos marcos de uma política autoritária, o que teve conseqüências importantes na reestruturação da universidade. Quero dizer com isso que, num contexto de institucionalização restringido, as fronteiras disciplinares nunca conseguiram se impor com a mesma força e rigidez que nos Estados Unidos. Não houve tempo nem condições materiais para que isso acontecesse. Sem dúvida elas existem nas universidades e nos centros de pesquisa, mas são mais porosas, fluidas, permitindo uma interação maior entre os praticantes das ciências sociais. As passagens da filosofia à sociologia, da ciência política à história, da antropologia à comunicação, da sociologia à literatura, não são casos de excepcionalidade, mas constituem quase que uma regra do campo universitário. Talvez por isso o ensaio, como forma de apreensão da realidade, sobretudo na tradição latino-americana hispânica, tenha sobrevivido ao processo de formalização disciplinar. Pois é de sua natureza desrespeitar a formalidade dos limites estabelecidos.


A análise da cultura constituiria um novo paradigma sistêmico? Pessoalmente não estou convencido de que as ciências sociais operem com paradigmas, no sentido que Kuhn atribui ao termo. Mesmo tomando o conceito de uma maneira mais alusiva e abrangente, como sinônimo de "referência teórica", minhas dúvidas persistem. Lembro que alguns anos atrás um debate semelhante ocorreu em relação à área de comunicação. Existiria uma "teoria da informação" distinta das outras esferas de conhecimento? Seriam as escolas de comunicação o lugar privilegiado desse "sistema epistemológico"? O resultado dessa polêmica, hoje apagada pelo tempo, não foi encorajador. Gostaria, porém, de retomar a questão, se eu a compreendi bem, dando-lhe outra formulação: atualmente, a problemática da cultura encerra algo de qualitativamente diferente em relação às perspectivas trabalhadas antes? Creio que sim. A tradição das ciências sociais, nos seus diversos ramos disciplinares, confinava a esfera da cultura a certos gêneros específicos: na literatura, a discussão estética; na antropologia, a compreensão das sociedades indígenas, do folclore e da cultura popular; na história, a reflexão sobre as civilizações (hoje revigorada com a emergência da globalização). Tanto na Europa como nos Estados Unidos, a sociologia, quando se ocupava do tema, praticamente o restringia à esfera da Kultur. A literatura e a arte desfrutavam assim de um estatuto privilegiado. O debate sobre o surgimento da cultura de massa nos Estados Unidos (anos de 1940 e 1950) tomava o universo da arte como referência obrigatória, seja para criticá-la como "elitista" (os autores liberais vinculados à idéia de democracia de massa e ao mercado), seja para valorizá-la, como os frankfurtianos, como o derradeiro refúgio da liberdade espiritual. Pode-se ainda dizer que a análise dos fenômenos culturais desfrutavam de um prestígio "menor" no campo intelectual. Outros temas, como partidos políticos, Estado, modernização, industrialização, urbanização, eram vistos como "mais importantes" do que os estudos referentes à cultura popular, às religiões etc. Certo, a esfera da "alta cultura" permanecia ilesa, pois era considerada algo à parte, o que garantia assim sua aura solitária. Mesmo na América Latina, guardadas as devidas proporções, esse movimento se reproduz. Contrariamente à Europa e aos Estados Unidos, a temática cultural, associada ao dilema da identidade nacional, foi uma preocupação permanente da intelectualidade. Nesse sentido, as análises empreendidas transbordaram os limites estabelecidos pelas ciências sociais européia e norte-americana. A constituição da nação implicava uma reflexão diferenciada. No entanto, na virada dos anos de 1960-1970, com o processo de institucionalização das disciplinas, temas como desenvolvimento, modernização, transição democrática, dependência terão um apelo muito maior entre os cientistas sociais, e um público mais amplo. É possível dizer que a tradição marxista, talvez de forma inconsciente, tenha nisso desempenhado certo papel, pois a "superestrutura", como reflexo ou não da "infra-estrutura", designava às manifestações culturais uma posição secundária. De qualquer maneira, com exceção da antropologia culturalista norte-americana (confinada aos estudos das sociedades indígenas, camponesa, e à aculturação) e a discussão da cultura nacional na América Latina, a esfera da cultura era vista não em sua totalidade, mas recortada segundo temas e disciplinas. Os estudos literários pouco tinham a ver com as análises sociológicas, a antropologia dificilmente dialogava com a dimensão "moderna" da chamada "cultura de massa", e assim por diante. Atualmente, em contraposição a essa tendência de compartimentalização do conhecimento, o universo da cultura passou a ser percebido como uma encruzilhada de intenções diversas, como se constituísse um espaço de convergência de movimentos e ritmos diferenciados: economia, relações sociais, tecnologia etc. Não creio que venha a existir, como se pensou no passado, uma "Teoria da Cultura" (intenção um tanto ingênua dos antropólogos culturalistas), mas estou convencido de que dificilmente esse espaço de convergência pode ser circunscrito às fronteiras canônicas das disciplinas existentes.


Outro aspecto diz respeito à problemática do poder. Tradicionalmente as ciências sociais tenderam a identificá-lo com a política. Há evidentemente exceções que confirmam a regra, por exemplo a sociologia da religião de Max Weber. Não obstante, o movimento dominante no pensamento sociológico (no sentido amplo do termo) foi considerá-lo algo preferencialmente vinculado ao universo da política. Por isso temas como Estado, governo, partidos, sindicatos e movimentos sociais tornaram-se hegemônicos entre os cientistas sociais. A cultura ficava um tanto à margem disso tudo. Novamente, diante desse quadro, a América Latina pode ser vista de forma distinta, mas é importante dimensionar as coisas para não cairmos em mal-entendidos. O dilema da identidade nacional levou a intelectualidade latino-americana a compreender o universo cultural (cultura nacional, cultura popular, imperialismo e colonialismo cultural) como algo intrinsecamente vinculado às questões políticas. Discutir "cultura" de uma certa forma era discutir política. O tema da identidade encerrava os dilemas e as esperanças relativos à construção nacional. Entretanto, isso posto, é importante qualificar o contexto no qual o debate era travado e apontar para as mudanças advindas desde então. Primeiro, a emergência de uma indústria cultural, particularmente num país como o Brasil, redefiniu a noção de cultura popular despolitizando a discussão anterior (tratei de maneira exaustiva esse aspecto em meu livro A moderna tradição brasileira [Brasiliense, 1988]). Segundo, o Estado-nação era o pressuposto básico da argumentação desenvolvida. Terceiro, o movimento de institucionalização das ciências sociais, mesmo restringido com a especialização das disciplinas, incentivou a separação entre compreensão da realidade e atuação política. As transformações recentes deslocam ainda a centralidade do Estado-nação, redefinindo a situação na qual são produzidas as ciências sociais. Muito do que se define por "crise política" associa-se às restrições impostas à sua atuação. Com o processo de globalização ele torna-se debilitado, cindindo o elo postulado anteriormente entre identidade nacional e luta política. O deslocamento do debate, da identidade nacional para as identidades particulares (étnicas, de gênero, regionais), reflete essa nova tendência. Mesmo no quadro dos antigos países "centrais", pode-se dizer que também as instâncias tradicionais da política perdem legitimidade ao se definirem quase que exclusivamente em termos das fronteiras nacionais (a discussão sobre uma possível "sociedade civil mundial" é um sintoma disso). Outra mudança, a meu ver profunda, diz respeito a como a esfera da cultura passa a ser percebida. Na América Latina, como apontei antes, ela era vista como um espaço de ação política, mas não necessariamente, como entendemos hoje, um lugar de poder. Ou seja, as contradições existentes no seio das manifestações culturais eram imediatamente traduzidas em análises e propostas encampadas pelas instituições tradicionalmente consagradas ao "fazer política": governo, partidos, sindicatos, movimentos sociais. Creio que se torna cada vez mais clara a distinção entre poder e política, pois o poder, como algo imanente às sociedades, às relações sociais, nem sempre se atualiza como política. Entre as manifestações culturais e as instâncias propriamente políticas existem portanto mediações. Sem elas corre-se o risco de indevidamente "politizar" a compreensão analítica, deixando-se de lado aspectos importantes, às vezes definitivos, da constituição de alguns fenômenos sociais (estética, religião etc.). De qualquer maneira, conceber a esfera da cultura como um lugar de poder significa dizer que a produção e a reprodução da sociedade passam necessariamente por sua compreensão (o que é distinto da idéia de "conscientização", muito em voga na América Latina nos anos de 1950 e 1960). Dimensão que se acentua no contexto da globalização.

Renato Ortiz é professor titular do Departamento de Sociologia da Unicamp e autor, entre outros, de Cultura e modernidade (Brasiliense, 1991), Mundialização e cultura (Brasiliense, 1994), Um outro território: ensaios sobre a mundialização (Olho d'Água, 1996), O próximo e o distante: Japão e modernidade-mundo (Brasiliense, 2000) e Ciências Sociais e trabalho intelectual (Olho d'Água, 2002).