terça-feira, 27 de abril de 2010

Comentários sobre os textos de 29 de abril - Whorf e Martin-Jones

1. Esse fragmento respalda-se na teoria de que o pensamento é dependente da linguagem, expressa inicialmente nos escritos de Edward Sapir e ampliada por Benjamim Lee Whorf a partir, sobretudo, de suas pesquisas sobre uma língua indígena da América do Norte, o Hopi. Com esse estudo, ele pôde constatar que não havia na língua Hopi a categoria de tempo verbal, já que a noção de tempo, formulada pela cultura do pesquisador, era alheia à cultura dos falantes de Hopi. Tal constatação induziu a tese de que a percepção que o indivíduo tem da realidade é moldada pelo sistema linguístico, ou seja, pensamos e experimentamos o mundo conforme a língua que falamos. Seguindo essa concepção, pode-se ainda adotar outro exemplo exposto por Whorf: a variedade de termos utilizados pelos Esquimós para designar neve. No universo esquimó, a neve é uma realidade abundante e fundamental, por essa razão, esse referente é categorizado de forma mais específica do em outras culturas, em que inexista a neve ou em que ela constitua apenas uma imagem rara. Sob a influência desses exemplos, é possível desvendar o pensamento de Whorf de que sistemas linguísticos substancialmente diferentes resultam em diferenças conceituais que moldam a mente dos falantes e suas concepções de mundo de modo distinto, assim como ele mesmo defende: “Esculpimos a natureza em conceitos porque somos membros de uma dada comunidade lingüística que combinou organizar as coisas deste modo – um acordo que se mantém estável por toda a comunidade lingüística e se encontra codificado na língua.” (Whorf, 1956, p.213)

2. O texto de Martin-Jones reforça nossas discussões sobre a questão do bilinguismo justamente por admitir que a abordagem desse fenômeno deve levar em consideração não somente os aspectos lingüísticos e pragmáticos, mas, sobretudo, a contextualização sócio-cultural, as relações de poder e a constituição das identidades. Nesse sentido, a autora assume a complexidade do tema ao apresentar as práticas de língua escrita de jovens de um grupo linguístico minoritário de uma cidade britânica, Leicester, os quais são bilíngues em inglês e gujarati. De acordo com essa investigação, podem ser percebidos os usos diversificados que os jovens fazem da escrita, além dos limites da escola e da universidade, de acordo com os interesses e/ou necessidades pessoais, as heranças culturais, a lealdade linguística e a proficiência escrita. Isso revela que a produção escrita por indivíduos bilíngues constitui uma prática social que contribui para a construção de identidades e valores sociais. Tudo isso nos conduz à necessidade de problematizar o bilinguismo e concebê-lo como um fenômeno dinâmico cujas implicações sócio-culturais vão além de uma visão neutra e estável. Além disso, é necessário considerar o próprio processo de escrita como uma prática de significação, em que sujeitos e sentidos constituem-se simultaneamente, e, por isso mesmo, exposta a transformações, (re)apropriações e rupturas, tal qual foi demonstrado pelas variadas experiências de escrita dos jovens pesquisados.

James Deam A. Freitas

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Questões para os textos do dia 29 de abril

Questão sobre o texto de Benjamin Lee Whorf:
"The categories and types that we isolate from the world of phenomena we do not find there because they stare every observer in the face; on the contrary, the world is presented in a kaleidoscopic flux of impressions which has to be organized by our minds - and this largely by the linguistic systems in our minds" (p. 213). Comente esta citação à luz da teoria de Whorf sobre a língua e o pensamento.

Questão sobre o texto de Marilyn Martin-Jones:
"He querido también demostrar que las prácticas de lengua escrita en diferentes idiomas tíenen sus raíces en tradiciones históricas y culturales específicas, pero los jóvenes recurren a estos usos de la lengua escrita de modos diversos..." (p. 90). Comente esta citação à luz das discussões que já tivemos sobre bilinguismo.

Texto de Romaine, 1995 (Do dia 22/04)

A situação bilíngue ocorre diante de muitos fatores históricos, mas também sabemos que esta dinâmica sofre grandes influências das relações de poder. Conforme obsevamos em Romaine, o poder dos grupos majoritários tende a impor forças sobre os menos poderosos. Exemplos: O Finlandês em relação ao Romanies, Sami e Swedes.
Para caracterizar esta realidade, Romaine nos diz em cifras a realidade linguística do monolinguismo e do bilinguismo na Europa – 25 dos 36 países europeus são considerados oficialmente monolíngues, mas na maioria destes há minorias linguísticas cujos direitos não são iguais quando comparados às línguas consideradas majoritárias.
Priscila Rodrigues.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

COMENTÁRIOS SOBRE OS TEXTOS DE SALZMANN E TIMM

1) A afirmação de Salzmann a respeito da Hipótese Sapir-Whorf não ignora a importância de suas proposições, porém propõe que elas sejam vistas com ressalvas. Por um lado, não se pode negar a relevância das pesquisas de Benjamin Lee Whorf, cuja formação profissional como engenheiro químico especializado na prevenção de incêndios não suplantou sua dedicação aos estudos antropológicos e linguísticos, no que se refere ao estabelecimento de um elo entre língua e a cultura de dada comunidade de fala, ou seja, na defesa de que falantes de uma mesma língua compartilham valores simbólicos semelhantes. Se considerarmos que, no contexto de disseminação dessas ideias, ainda predominava sobre os estudos da linguagem uma influência da lógica formal, baseada nas formulações veritativas, bem como a defesa de uma gramática universal, os argumentos de Whorf baseados na interdependência entre língua-cultura constituíram uma inovação. Ainda hoje, não se pode negar que língua constitui uma forma de expressão cultural.
Contudo, um olhar atento sobre a questão nos induz a problematizar os conceitos de língua e cultura, que são a base dos princípios lingüísticos de determinismo (a língua determina o pensamento) e relativismo (visão de mundo e comportamentos moldados pela língua), instaurados por Sapir-Whorf. Na forma inicialmente proposta, há uma relação de causa e efeito entre língua e cultura, a partir, principalmente, de investigações sobre o léxico dos falantes, perpassada pelas noções de unicidade e estabilidade. Obviamente, não foram agregados às pesquisas dos autores termos como identidade, práticas discursivas, hibridismo cultural, fatores importantes para compreender que, apesar de a identidade de um indivíduo se construir na língua e através dela, conforme nos aponta Rajagopalan (2001), ao investigar uma língua estamos, de fato, analisando os seus sujeitos falantes, suas práticas discursivas e os efeitos que elas têm na construção das identidades sociais. Esse contexto desautoriza a concepção de linguagem como representação do mundo e a concebe como sendo uma forma de ação, de interação e de constituição da subjetividade e das identidades. Nesse caso, uma análise linguística precisa levar em conta, os fatores sociológicos, isso porque os sujeitos não são apenas falantes de uma língua, mas a utilizam acordo com suas marcas sócio-históricas, de gênero, de profissão, de faixa etária, de opção religiosa, de comportamento sexual, de partido, enfim de contextos específicos que atuam, via linguagem, na constituição das identidades. Isso só nos confirma o posicionamento de Moita Lopes (1998, p.326) : “através do uso da linguagem construímos nossas várias identidades sociais no discurso e essas identidades afetam os significados que construímos na sociedade”.
Da mesma forma, a cultura só tem existência no contexto social, já que ela é socialmente construída nas práticas discursivas. Assim rompe-se com uma visão universalizante e independente de cultura, a qual não é propriedade exclusiva de um grupo, de uma comunidade ou de uma nação e nem mesmo pode ser vista como uma localização sólida e isenta de deslocamentos, reconfigurações e reapropriações. Por essa razão, definir um padrão cultural a partir de um estudo sistemático e isolado do léxico utilizado pelos falantes de uma dada comunidade constitui um exagero interpretativo no que diz respeito à argumentação da dependência entre língua e cultura. É querer reduzir uma complexidade inerente a uma constatação redutora, como fez Whorf ao afirmar que na língua dos Hopi não havia referência temporal, o que sinalizava a visão de mundo e o modo de vida específicos daquela comunidade. Tanto foi exagerada tal verificação que, logo, foi refutada.
Enfim, não é possível contestar que a língua contribui inevitavelmente para a expressão cultural de indivíduos e de uma coletividade. Ela não deixa de ser um meio de identificação cultural, mas antes é baseada nos usos sociais que os falantes dela fazem, a partir dos contextos sócio-historico-culturais em que estão inseridos e não apenas por pertencer a uma determinada comunidade que utiliza a mesma língua.


2) O texto de Timm analisa a questão da língua bretã na Europa e os conflitos linguísticos e culturais entre os falantes nativos e os defensores do neo-breton, uma versão atualizada da língua. O Bretão, último fragmento celta no continente europeu, constitui uma língua minoritária dentro de um território tradicional. É uma língua ameaçada, já que a maioria dos bretões são bilíngües ou monolíngues em Francês. A tentativa de uma revitalização linguistica, proposta pelos breton reformers esbarra em aspectos políticos e ideológicos que reforçam a concepção de que não se pode discutir bilingüismo senão a partir das relações de poder. A situação de confronto entre a língua Bretã e o Francês e a forma como essa gradativamente vai suplantando aquela, nos induzem a concordar com Romaine quando ela afirma que "o bilinguismo está a um passo da extinção linguística". Não que se esteja afirmando que esse fenômeno constitua um problema a ser eliminado, mas não se podem negar os casos em que a morte de uma língua foi precedida pelo bilingüismo. Assim, diante de pressões políticas, culturais e econômicas é pertinente a afirmação de que uma língua venha a sucumbir, já que a questão do bilingüismo está inserida num complexo processo sociolingüístico em que línguas minoritárias acabam cedendo às pressões das línguas de prestígio, num movimento em que a morte linguistica seja mesmo um fantasma que ronda nossa civilização há séculos.

James Deam

COMENTÁRIOS SOBRE OS TEXTOS DE 15 DE ABRIL

1) Comente a afirmação de Salzmann sobre a hipótese de Whorf (Sapir Whorf Hypothesis), "Whorf concerns himself with the important question of language-culture dependency in several of his papers, but he overstates his case" (p. 64).

Como o título de Salzmann já informa previamente, a relação língua e cultura é o foco do capítulo. E logo na página 44 Salzmann já coloca a hipótese de que Whorf teria exagerado: “From a contemporary standpoint, however, it appears that Whorf overstated his case.” Isto dito, Salzmann passa a discutir tal afirmação, através de exemplos diversos, até chegar a sua conclusão, na página 64, onde afirma que, salvo termos técnicos que requerem sua própria terminologia, todas as línguas podem expressar qualquer coisa, pelo menos é o que acredita a maioria dos lingüistas. Questionando também a precisão e representatividade dos dados de Whorf, Salzmann afirma que Whorf exagerou sim. Até aí, à luz da evolução dos estudos lingüísticos pós-Whorf, nada demais.

O que me chama a atenção, entretanto, nesta discussão, e que gostaria de registrar aqui, para nossa discussão, não é o fato de que Whorf exagerou, mas sim a parte que ele acertou. Salzmann afirma que “there is no question that the lexicon of any language mirrors whatever the nonverbal culture emphasizes; that is, those aspects of culture that are important for the members of a society are correspondingly highlighted in the vocabulary” (p. 47). Mesmo sem o overstatement whorfiano, se assim posso dizer, tal relação entre língua e cultura é, pelo menos em minha opinião, bastante interessante. Observar aspectos tão básicos da vida humana, como as relações familiares, por exemplo, sendo diferentemente organizadas por línguas diferentes, e o impacto disto na cultura – ou vice-versa, depende de quem veio antes, o ovo ou a galinha – é fascinante. Como coloca Salzmann na página 49: “It is clear that the kinship terminology by which one classifies relatives also governs the type of behavior patterns and attitudes applied to them”.

Considere-se por exemplo a figura da sogra, que na cultura brasileira é sempre execrada, mesmo quando alguém tem uma ótima relação com a mãe de seu cônjuge. O termo sogra já tem conotações desagradáveis para um povo como o brasileiro, que se diverte tanto ridicularizando e odiando este parentesco. Quando olhamos para o termo usado no inglês, entretanto, vemos uma proximidade conceitual bem maior, já que o termo usado para a mãe do cônjuge é mother-in-law. Não disponho de conhecimento suficiente das culturas anglófonas para saber se esta diferença conceitual implica também numa abordagem cultural diferente do relacionamento com a mãe do cônjuge, mas estas questões instigam minha curiosidade.

Termino minhas divagações citando ainda, com referência ao exemplo da sogra, a observação de Don Richardson, missionário cristão entre os Sawi da Nova Guiné, em seu livro O totem da paz (Belo Horizonte, MG: Betânia, 2007). Richardson diz que “para um sawi do sexo masculino, nada era mais sagrado do que o relacionamento com os que lhe haviam dado a filha ou filhas em casamento. Tão grande era o respeito dos sawis pelos seus sogros, que nem mesmo pronunciavam seus nomes em voz alta. E o seu sentimento de dever para com eles era tão forte, que superava o que os ligava aos próprios pais e à esposa e aos filhos”. E por causa disto, a palavra usada pelos sawis para designar os sogros era uma palavra importante e reverentemente pronunciada.

Assim, embora Whorf tenha exagerado, sua observação da relação língua e cultura continua a ser bastante interessante.


2) Relacione o artigo de Timm com a afirmação de Romaine (1995, p.5), "o bilinguismo está a um passo da extinção linguística".

O caso do Breton relatado por Lenora Timm parece corroborar a afirmação de Romaine, pois o que se percebe é que os falantes nativos da língua em questão estão diminuindo, em parte por questões pragmáticas que os levam a optar pelo francês, e em parte pelo fracasso do neo-breton, como relatado pela autora, em revitalizar a língua, o que reforça a opção dos falantes bilíngües de Breton/French pelo segundo idioma.


Onésimo Ferraz

Refletindo: Bilinguismo/Cultura

A partir do que já nos foram exposto pelos colegas e as professoras, fazendo algumas breves leituras encontrei em na pesquisa de Megale (2005) situações importantes às quais por nós também já foram observadas acerca do bilinguismo, bem como suas várias definições, assim ela diz:

A noção de bilingüismo tornou-se cada vez mais ampla e difícil de conceituar, a partir do século XX. A primeira vista, definir o bilingüismo não parece ser uma tarefa difícil. De acordo com o dicionário Oxford (2000:117) bilíngüe é definido como: “ser capaz de falar duas línguas igualmente bem porque as utiliza desde muito jovem”. Na visão popular, ser bilíngüe é o mesmo que ser capaz de falar duas línguas perfeitamente; esta é também a definição empregada por Bloomfield que define bilingüismo como “o controle nativo de duas línguas” (BLOOMFIELD, 1935, apud HARMERS e BLANC, 2000:6). Opondo-se a esta visão que inclui apenas bilíngües perfeitos, Macnamara propõe que “um indivíduo bilíngüe é alguém que possui competência mínima em uma das quatro habilidades lingüísticas (falar, ouvir, ler e escrever) em uma língua diferente de sua língua nativa” (MACNAMARA, 1967 apud HARMERS e BLANC, 2000:6.). Entre estes dois extremos encontram-se outras definições, como por exemplo, a definição proposta por Titone, para quem bilingüismo é “a capacidade individual de falar uma segunda língua obedecendo às estruturas desta língua e não parafraseando a primeira língua” (TITONE, 1972 apud HARMERS e BLANC, 2000:7). Outros autores, como Barker e Prys Jones (1998).(p. 1-2)

Isso tudo por nós foi observado, mais é sempre bom relembrarmos, e ainda em suas discussões ela trás uma situação a qual foi discutida na nossa ultima aula, em relação à educação bilíngue no Brasil em especial em Goiânia Megale busca em outro estudioso para refletir sobre essa educação:

Ainda segundo Harmers e Blanc (2000), o fator mais importante na experiência bilíngüe é que ambas as línguas devem ser igualmente valorizadas. Como isto será realizado, deve ser estudado por aqueles que planejam a educação bilíngüe. Uma outra questão que deve ser levada em consideração ao se planejar a educação bilíngüe é a definição dos objetivos, de acordo com o programa que será seguido, e como estes serão alcançados.(p.6)

Essas discussões sempre nos deixam com um que a mais de curiosidade. Nessas observações fazemos uma ligação nas discussões sobre cultura trazida por Hall, onde ela reflete na identidade do individuo, ele recebe uma outra cultura dentro de sua própria cultura, podemos observar que isso faz com que esse individuo valorize tanto a sua cultura como a outra.

Cleber Cezar

domingo, 11 de abril de 2010

Salzmann e Tim

1) Salzmann expõe a teoria de Whorf deixando clara a relação dialética que este acredita haver entre as relações do indivíduo com sua cultura e sua língua. Ideia que evolui dos estudos de Humboldt e Boas e que ganha destaque após a Segunda Guerra com a publicação da teoria do Relativismo Lingüístico. O autor atribui à língua a função de fornecer ao indivíduo recursos para que este possa interagir e agir sobre a cultura que vive, dando a ela um exagero destaque no que concerne à cultura interferir na conceptualização dos significados. Os argumentos seguintes seguem amenizando a teoria de Whorf, tornando-a mais clara e com contornos capazes de propiciar a condução dessa linha de estudo. O foco é relacionar visão de mundo com cultura e linguagem definindo até que ponto a cultura e a linguagem interferem-se mutuamente e como interferem da forma como o indivíduo lida com o mundo ao seu redor. O exagero do autor é mostrado quando são expostos argumentos que contradizem alguns dos exemplos aos quais Whorf recorreu para fundamentar seus dizeres. Acreditar que o fato de uma cultura utilizar-se de um maior ou menor número de palavras para definir uma mesma é algo que reflita ou limite sua habilidade cognitiva, e que o comportamento cultural interfere nas regras gramaticais de alguns idiomas é sem dúvida inflar os reflexos desse comportamento social. É claro que muitas das escolhas lexicais e a própria necessidade de uso desse léxico envolve a visão e as regras sociais que o indivíduo detém no momento do enunciado, mas não é possível dizer que elas determinam e definem, ou ainda limitam, a forma como o indivíduo se posiciona no mundo.

Com certeza é atribuir muito ao comportamento social, dizer que este dita ou fornece as regras disponíveis para que interpretemos o mundo com o qual temos contato diretamente e constantemente. É claro que nosso comportamento social nasce de nossas habilidades cognitivas, que são elas que interpretam nossas regras sócio comportamentais e que dizem como deveremos reagir às situações cotidianos da vida social. Não há como desvincular cultura e compreensão de mundo, o mundo em que hoje vive o ser humano é um espaço culturalmente criado e dividido, logo, as regras de convívio social tornam a principal peça nesse jogo. A linguagem é claro também não se distancia dessa realidade ela é utilizada pela e para cultura, como forma de modificação e perpetuação da mesma . É isso justifica dizer que embora ainda não haja uma linha clara que desenhe esse nível de interferência mútua, é impossível desvencilhar o comportamento sócio cultural do comportamento lingüístico e esses dois da forma como o indivíduo lida com as próprias ideias.

2) O texto de Timm mostra parte das dificuldades de se recuperar uma determinada lingüística de um avançado estágio de desaparecimento lingüístico provocado por avanços ideológicos e sócio culturais na comunidade de falantes do Bretão. Os argumentos do autor mostram que mesmo contando com o trabalho de especialistas que fizeram um levantamento do léxico da língua high que invadira a língua bretã e propuseram novos vocábulos, a língua perdeu parte de sua capacidade representativa frente a realidade da comunidade bretã. Regras de comportamentos sociais, formas de descrições e construções sintáticas da língua bretã deram espaços às equivalentes em língua francesa. Os novos falantes introduzidos à língua bretã após conhecerem o francês inicialmente não conseguem se adequar às convenções sócio linguísticas dos falantes antigos deixando exposto um conflito de gerações ao utilizar a língua.

O período diglóssico dessa sociedade, no caso francês e bretão, com certeza é responsável por essa perda que a língua bretã sofreu nesse período. O uso da língua exclusivamente em determinadas situações sociais é o que causa a substituição de parâmetros culturais na língua. Quando se refere ao bilingüismo a um passo da extinção podemos dizer que em situação de contato onde uma língua é privilegiada em relação a outra, é normal que elas passem por um processo de interlíngua e por fim acabem resultando num idioma único capaz de suprir todas as necessidades de uma comunidade, afinal, todas as línguas são suficientemente capazes de servir a uma comunidade sem que outra língua seja necessária. A existência de comunidades cada maiores, com ligações mais rápidas entre si e o que gera o receio de uma homogeneização lingüística.Diego Alves

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Salzmann e Timm - Textos de 15 de abril

1) Comente a afirmação de Salzmann sobre a hipótese de Whorf (Sapir Whorf Hypothesis), "Whorf concerns himself with the important question of language-culture dependency in several of his papers, but he overstates his case" (p. 64).

2) Relacione o artigo de Timm com a afirmação de Romaine (1995, p.5), "o bilinguismo está a um passo da extinção linguística".

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sobre o espaço-tempo

Quando eu era criança, há coisa de 30 anos atrás, o mundo me parecia um lugar imenso, quase infinito, e o tempo arrastava-se com uma lentidão que conferia à vida uma dimensão épica. Meu quintal era um reino onde eu era completo, envolto por seu espaço acolhedor, que me protegia do mundo lá fora. Sair do bairro onde eu morava e ir até o “centro” da cidade, por exemplo, era uma viagem. Viajar para o Japão era uma odisseia impossível, senão para uns poucos privilegiados, que por alguma razão visitavam o “outro lado do mundo”. E quanto ao tempo? Um ano demorava tanto a passar! Como era difícil esperar por um novo Natal! E ir dormir à meia-noite era um feito a ser relatado orgulhosamente aos colegas de escola no dia seguinte, já que esta era uma hora mítica, muito tarde da noite, e também recheada de símbolos espirituais; era a hora do medo, a hora do terror, um momento mágico que a gente temia presenciar. Era melhor estar dormindo do que ter a consciência de ser apanhado desprevenido pela meia-noite.

Pois bem, poucas décadas se passaram, e cá estou no turbilhão da vida adulta, sofrendo /desfrutando a vida nos tempos da globalização. E nestes 30 anos, vivi mais mudanças que meu pai em seus 89 anos de vida jamais sonhou. Alguns exemplos:

· O telefone que era coisa de gente rica, hoje é onipresente (em minha casa temos um fixo e mais 4 celulares). Se antes tínhamos que ir ao telefone, hoje o levamos conosco o tempo todo.

· As viagens, antes tão custosas e demoradas, hoje se tornam cada vez mais acessíveis, reduzindo o planeta Terra a um grande quintal. Eu mesmo tive a oportunidade de visitar Cingapura, com escala na África do Sul, levando pouco mais de 24 horas da porta de casa até o hotel onde me hospedei. E foi nesta viagem também que experimentei pela primeira vez uma sensação curiosa: devido ao fuso horário de 11 horas, eu falava com minha família por telefone quando para mim era a manhã de um dia, e para eles, em nossa casa, ainda era a noite do dia anterior. Este deslocamento espacial somado a esta espécie de viagem no tempo foi bastante perturbadora, e alterou para sempre minha percepção espacial e temporal.

· O centro da cidade hoje já não é mais tão central, é quase uma periferia competindo com os múltiplos espaços de compras, negócios e lazer, e quando o visito, levo poucos minutos – se o trânsito ajudar – para chegar, dirigindo meu carro.

· O tempo encolheu, ou acelerou, e eu e todos que conheço vivemos com a incômoda sensação de que o ano está passando muito rápido, a semana nunca é suficiente pra se fazer tudo o que precisamos, o dia é muito curto, e a noite... a noite morreu, assassinada pelas luzes onipresentes, pela TV que não sai mais do ar – onde estão aquelas listras verticais coloridas que se via quando se ligava a TV de madrugada?! – e pelo comércio que funciona 24 horas. Dormir antes da meia-noite é proeza que raramente consigo já faz muitos anos.

· E a Internet, esta é uma personagem central nesta história toda. Ela é a responsável por uma overdose de informação que também contribui para o achatamento do espaço-tempo. Uma pesquisa escolar, por exemplo, que na minha infância requeria o deslocamento até uma biblioteca, e horas de pesquisa em livros, agora é feita por meus filhos com alguns cliques no Google. Em poucos minutos, consegue-se a informação, as imagens e tudo o mais. Ou seja, do nosso lugar – nossa casa – conseguimos viajar por diversos espaços e coletar conteúdos para os estudos das crianças. A comunicação por e-mails e programas de mensagens instantâneas aproxima-nos de amigos separados por milhares de quilômetros, tornando possível o contato diário entre quem antes tinha que se contentar com a longa espera por cartas. As imagens de satélite nos transportam em segundos para qualquer lugar do globo. Ao mesmo tempo, vivemos estressados com a impossibilidade de responder a todos os e-mails, e empobrecidos com a superficialidade dos múltiplos contatos dos sites de relacionamento. Nunca tivemos tantos amigos, mas em alguns casos, nunca fomos tão solitários. E se hoje tenho acesso em um dia a mais livros e músicas do que conseguia ver em um ano, também não tenho mais a mesma intensidade na apreciação deles. Quando eu gravava uma fita cassete nos anos 80, copiando um LP de algum amigo generoso, eu ouvia aquelas músicas por um ano. Hoje carrego em meu pendrive mais músicas do que sou capaz de ouvir em um mês, nem sei direito o que tenho lá.

Todas essas reflexões calcadas na minha experiência pessoal comprovam a tese de Renato Ortiz, segundo a qual “as transformações atuais (capitalismo flexível, indústrias culturais transnacionais, mundialização da cultura, avanços tecnológicos), incidem diretamente na maneira de se conceber as formas espaciais" cf. Ortiz (2008), p. 75. Pois existindo neste tempo de pós-modernidade, particularmente nestes últimos 30 anos, deparamo-nos com uma visão de espaço diferente daquela que nos legaram nossos avós e pais. E não só de espaço, mas também de tempo, como Stuart Hall nota ao dizer que o espaço-tempo se comprime, de modo que “se sente que o mundo é menor e as distâncias mais curtas” cf. Hall (2006), p. 69. O mesmo Hall observa que “o tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação”, e que “diferentes épocas culturais tem diferentes formas de combinar essas coordenadas espaço-tempo.” Hall (2006), p. 70.

É fato que minha concepção do espaço e do tempo é hoje bastante diferente daquela que eu tinha na infância, e que eu compartilhava com minha família. Não tenho nenhuma dificuldade em perceber que muitos lugares que nós dizíamos que ficava longe, hoje consideramos muito perto, pois a noção espacial se modificou significativamente. E aquilo que antes era chamado de tarde (meia-noite, por exemplo) já não é tão tarde para nós, e o que era rápido, nesta época viciada em velocidade, hoje é considerado muito lento. Por fim, o que era longe culturalmente, como produtos de outros países, hoje é elemento corriqueiro em nosso cotidiano, já que é normal ouvir música americana em um telefone celular de marca finlandesa fabricado na china, importado por uma empresa brasileira – ou contrabandeado via Paraguai, mas isto nunca se confessa – e vendido nas lojas de Goiânia, parodiando o colega Ricardo Wobeto, em sua postagem no nosso blog.

Onésimo Ferraz do Nascimento, aluno ouvinte.