terça-feira, 27 de abril de 2010

Comentários sobre os textos de 29 de abril - Whorf e Martin-Jones

1. Esse fragmento respalda-se na teoria de que o pensamento é dependente da linguagem, expressa inicialmente nos escritos de Edward Sapir e ampliada por Benjamim Lee Whorf a partir, sobretudo, de suas pesquisas sobre uma língua indígena da América do Norte, o Hopi. Com esse estudo, ele pôde constatar que não havia na língua Hopi a categoria de tempo verbal, já que a noção de tempo, formulada pela cultura do pesquisador, era alheia à cultura dos falantes de Hopi. Tal constatação induziu a tese de que a percepção que o indivíduo tem da realidade é moldada pelo sistema linguístico, ou seja, pensamos e experimentamos o mundo conforme a língua que falamos. Seguindo essa concepção, pode-se ainda adotar outro exemplo exposto por Whorf: a variedade de termos utilizados pelos Esquimós para designar neve. No universo esquimó, a neve é uma realidade abundante e fundamental, por essa razão, esse referente é categorizado de forma mais específica do em outras culturas, em que inexista a neve ou em que ela constitua apenas uma imagem rara. Sob a influência desses exemplos, é possível desvendar o pensamento de Whorf de que sistemas linguísticos substancialmente diferentes resultam em diferenças conceituais que moldam a mente dos falantes e suas concepções de mundo de modo distinto, assim como ele mesmo defende: “Esculpimos a natureza em conceitos porque somos membros de uma dada comunidade lingüística que combinou organizar as coisas deste modo – um acordo que se mantém estável por toda a comunidade lingüística e se encontra codificado na língua.” (Whorf, 1956, p.213)

2. O texto de Martin-Jones reforça nossas discussões sobre a questão do bilinguismo justamente por admitir que a abordagem desse fenômeno deve levar em consideração não somente os aspectos lingüísticos e pragmáticos, mas, sobretudo, a contextualização sócio-cultural, as relações de poder e a constituição das identidades. Nesse sentido, a autora assume a complexidade do tema ao apresentar as práticas de língua escrita de jovens de um grupo linguístico minoritário de uma cidade britânica, Leicester, os quais são bilíngues em inglês e gujarati. De acordo com essa investigação, podem ser percebidos os usos diversificados que os jovens fazem da escrita, além dos limites da escola e da universidade, de acordo com os interesses e/ou necessidades pessoais, as heranças culturais, a lealdade linguística e a proficiência escrita. Isso revela que a produção escrita por indivíduos bilíngues constitui uma prática social que contribui para a construção de identidades e valores sociais. Tudo isso nos conduz à necessidade de problematizar o bilinguismo e concebê-lo como um fenômeno dinâmico cujas implicações sócio-culturais vão além de uma visão neutra e estável. Além disso, é necessário considerar o próprio processo de escrita como uma prática de significação, em que sujeitos e sentidos constituem-se simultaneamente, e, por isso mesmo, exposta a transformações, (re)apropriações e rupturas, tal qual foi demonstrado pelas variadas experiências de escrita dos jovens pesquisados.

James Deam A. Freitas

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